Em
um dia primeiro atravessado você despejou da sua caçamba as suas culpas e dores
no meu pátio como se fossem minhas, você me deu em um pacote mal embrulhado seu
lado mais podre. Vi você definhado, ridículo, fraco, amarrado na sua gosma
perversa, vi você sem minha projeção mental, sem sua fantasia de gente linda e
iluminada, sem o amor que a gente inventou.
Em um dia primeiro atravessado você chegou,
atirou um pedaço seu em mim e mal viu que, ao virar as costas, foi perdendo
todos outros pedaços, como um leproso.
E eu que já pensei em amarrar as coisas, em
uma costura nova em folha, eu que acreditei naquele lance piegas, e eu que dei
minhas flores. Ainda bem que a lista das “dez mais” não me convenceu, ainda bem
que você não aprendeu a fingir tão bem. Ainda bem.
Você estagia meses na cabeça de um ser, e
pelos gostos, pelas coisas de que ri, pelos amigos queridos e pelas
trivialidades você começa a pintar um humanóide simpático dentro de si. Mas daí
vem dor, dor e dor, e como o fulano lida com ela é que mostra de quê seus ossos
são feitos. Alguns são feitos de poeira estelar, outros são feitos de nada,
como a casa feita com muito esmero na rua dos bobos, nº0.