quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Lady Ignorance, you've got no bliss.


A Sra. Ignorância anda ereta, com as mão presunçosamente postas nas ancas. Ela franze o rosto e despeja, em cuspes bem escarrados, significativas doses de veneno.
A verdade, a confidência, um futuro brilhante, a felicidade alheia, o amor, as aptidões, a paixão pelo que se faz, o abraço despretensioso, o sorriso que nada esconde, a metamorfose, o "apesar de", o brilho próprio, a vontade de ser, o querer, os acasos, a vida que você sempre quis, o... o... Então - uma pausa para respirar - isso tudo e tudo mais, sabe? Isso tudo e tudo mais é uma grande demagogia, utopia forte como Saquê.
Felicidade não há, meus amores. Vida? Bo-ba-gem! Vida não é pra ser vivida, entenda. É bom que perceba que sonhos devem ser podados logo cedo para que cresçam engomados, durinhos, certinhos e sem perspectivas. Porque viver curvado, subordinado e comer pedra de calçamento sem reclamações é muito digno...
Agora, cá entre nós, permito que a Sra. Ignorância acredite que entendi todo seu discurso, porque, do contrário é esforço em vão. Por não querer ouvir, perdeu a audição. Por não querer ver, ficou permanentemente cega. Porém ainda fala com a força comparada à de uma grande tempestade.
Pobre Ignorância. Tão forte, tão presente, mas também toda iludida e miserável.