domingo, 2 de setembro de 2012


    

    Em um dia primeiro atravessado você despejou da sua caçamba as suas culpas e dores no meu pátio como se fossem minhas, você me deu em um pacote mal embrulhado seu lado mais podre. Vi você definhado, ridículo, fraco, amarrado na sua gosma perversa, vi você sem minha projeção mental, sem sua fantasia de gente linda e iluminada, sem o amor que a gente inventou.
     Em um dia primeiro atravessado você chegou, atirou um pedaço seu em mim e mal viu que, ao virar as costas, foi perdendo todos outros pedaços, como um leproso.
     E eu que já pensei em amarrar as coisas, em uma costura nova em folha, eu que acreditei naquele lance piegas, e eu que dei minhas flores. Ainda bem que a lista das “dez mais” não me convenceu, ainda bem que você não aprendeu a fingir tão bem. Ainda bem.
     Você estagia meses na cabeça de um ser, e pelos gostos, pelas coisas de que ri, pelos amigos queridos e pelas trivialidades você começa a pintar um humanóide simpático dentro de si. Mas daí vem dor, dor e dor, e como o fulano lida com ela é que mostra de quê seus ossos são feitos. Alguns são feitos de poeira estelar, outros são feitos de nada, como a casa feita com muito esmero na rua dos bobos, nº0.